segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A garota da capa

Do site do Reinaldo Azevedo:
Dilma Rousseff, candidata a presidente da República, pelo PT, é capa da VEJA desta semana. Em primeiríssimo lugar, se há alguém que gostaria de determinar o que VEJA dá ou deixa de dar na capa, que adoraria definir o conteúdo do que a revista publica ou deixa de publicar, bem, essa pessoa não sou eu. Essa ambição talvez seja de Marco Aurélio Garcia. Coordenador do programa do PT, ele vê severos monstros da dominação ideológica no Dr. House… Eu o imagino, instantes antes de dormir, delirando com uma batalha naval contra a Quarta Frota e com a substituição de Two and a Half Men por uma palestra de Tereza Cruvinel sobre como fazer uma televisão que dê traço de audiência… Em segundo lugar, e não em ordem de importância, Dilma é a capa obrigatória da semana. Fosse eu a decidir, teria feito a mesma coisa, ora essa. A oficialização da candidata do partido que está no oitavo ano de poder, com chances reais de vitória, tem de ser o destaque da maior revista do país — revista que tem princípios, mas que não tem partido. A reportagem, de Otávio Cabral e Gustavo Ribeiro, está no ponto certo: trata da crise que acabou levando Lula a escolher a novata (no petismo) Dilma para a tarefa — já que outras lideranças foram calcinadas pelo mensalão —; evidencia como o partido, a despeito da pressão dos radicais, tem, na economia, optado pelo centro; expõe as tentações totalitárias que remanescem em certas correntes e em certas lideranças — algumas de expressão, como Marco Aurélio Garcia — e trata do esforço feito por Lula para amaciar a figura de Dilma. Em suma, o PT não mudou a democracia; a democracia é que mudou o PT, apesar do PT — essa conclusão é minha, não da revista. A edição traz também a resposta de Dilma a 10 perguntas formuladas por VEJA. Tudo por e-mail e sem direito a réplica, como quis a ministra. Destaco uma e comento: -John Maynard Keynes, que a senhora admira, dizia alguma coisa equivalente a “se a realidade muda, eu mudo minhas convicções”. Como sua visão de mundo mudou com o tempo e com a experiência de ajudar a governar um país?
-O Brasil superou uma ditadura militar e está consolidando sua democracia. A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre estive ao lado da justiça, da democracia e da igualdade social. Replico: Faço uma réplica a essa resposta, e a ministra poderia, mas não vai, treplicar. E eu publicaria com gosto a rua resposta. Até onde sei, o Brasil não está “consolidando a sua democracia”. Ela está consolidada. Ou, então, eu gostaria de saber o que falta para que o Brasil, aos olhos da candidata, seja realmente democrático. Nessas horas, as esquerdas costumam sacar do embornal de inutilidades e idéias velhas, a chamada “democracia social”. É alguém meter um adjetivo na democracia, leitor, e o melhor que você tem a fazer é sair da sala, antes que o doido tente jogá-lo pela janela. Todos os que tentaram matizar a democracia, acrescentando-lhe rabichos e penduricalhos, tinham em mente, de verdade, uma ditadura. Caso Dilma afirmasse que a democracia só se consolidará quando não houver mais pobres no país, será o caso de lembrar à ministra que “democracia” não é um modelo de distribuição de renda ou de construção da igualdade — as ditaduras também podem fazer isso. A democracia é um regime que garante as liberdades públicas e os direitos individuais. O resto é lixo autoritário. Quanto a afirmar que “nunca mudou de lado” e que “sempre” esteve do “lado da justiça, da democracia e da igualdade social”, sou obrigado a observar que se trata de uma inverdade verificada pelos fatos. Que queira dizer isso de si mesma hoje, vá lá… Aquele “nunca” e aquele “sempre” é que complicam a resposta. Sou obrigado a lembrar que as pessoas que o Colina, a VPR e a VAR-Palmares mataram não lustram um passado de “justiça” e que essas organizações jamais quiseram “democracia” — ou me apresentem um miserável texto em que as três organizações, pelas quais Dilma transitou, defendiam “democracia”. O “sempre” e o “nunca” são inverdades históricas. Para uma ex-militante daquelas organizações, disputar eleições num regime democrático corresponde a mudar de lado. Se é de coração ou não, pouco importa. O que importa é que as instituições democráticas sejam preservadas das tentações totalitárias de quem quer que seja e que a mudança de lado não seja só uma tática para tentar por meio das urnas ou não se conseguiu fazer por meio das armas. *Para ler a íntegra da reportagem clique aqui

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