sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Além da imaginação

Eu confesso: sou um sarney-dependente, preciso de pelo menos uma dose dele por dia para me divertir, ou me enfurecer. Virou um vício. Há 40 anos acompanho fascinado a sua história com olhos de ficcionista.
Porque só numa ficção de alta qualidade poderia existir um personagem verossímil com as características e a trajetória de Sarney, um pobre poeta maranhense que construiu um império sem nunca ter exercido outra atividade que não a politica e os cargos oficiais.
A vida pública de Sarney é um livro aberto, mas os estudiosos continuam debatendo o enigma do seu sucesso.
Uma das teses mais polêmicas é que ele empregaria, com verbas publicas, uma grande rede de pais-de-santo do Maranhão para baterem seus tambores dia e noite por ele, enquanto se garante comungando na capela do Curupu.
Só o sobrenatural poderia explicar alguém com tão pouco ter ido tão longe. Os mais céticos acham que ele é um homem de fé e sorte.
Dizem que Sarney, como pessoa física, é até cordial e agradável, um amigo antigo de amigos por quem tenho imenso apreço e respeito, como Ferreira Gullar e Marcos Vilaça. Claro, deve ter lá suas qualidades, mas também seus poderes mágicos, para conseguir sobreviver e crescer tendo feito tudo que fez. Com quem fez. E o que não fez. E não deixou fazer. Pelo que disse, do jeito que disse. Pelo que fala, e como escreve. Além de estilo, Sarney tem sorte. O seu Maranhão, não: há 40 anos mantém o pior IDH do Brasil.
Mas ele diz que o Senado é transparente e tem o orçamento enxuto, e que fará o sacrifício de presidi-lo mais uma vez. Todos aplaudem. Até ele acredita.
O meu Sarney é tão grande que se tornou um símbolo. Como uma síntese dos piores vícios e atrasos da política brasileira, ele se agiganta, sobranceiro (êpa ! peguei o estilo), como um grandioso personagem épico, que é como ele mesmo se vê. Mas como o seu talento ficcional é menor que o político, o personagem que ele imagina para si mesmo em seus discursos e entrevistas sempre parece tosco, inverossímil e cômico. Como o real.
Nem Jorge Amado, Dias Gomes e João Ubaldo, juntos, conseguiriam criar um Sarney.
*Texto por Nelson Mota

Um comentário:

Castelo disse...

Muito portuno esse post mas,
Mário, vou relatar um dos muitos causos, desses que o povo conta no Maranhão, mais precisamente na casa do pai de santo da figuram aí,....."Conta-se que um sertaneja chegou por volta do meio dia, numa casinha de palha parede de pau a pique, bradou alto lá fora,"ôh de casa", lhe aparece um menino de uns oito anos de idade,que nada lhes respondeu,...."cadê teu pai?" indagou o forasteiro, "Tá pra roça" cabisbaixo respondeu,...."O que tem aí pra comer?"novamente perguntou,..."Nada"a resospta veio -
Puxou conversa o visitante, " dizem que teu pai é macumbeiro, é verdade?"
"Nã,...sei disso não", respondeu o garoto,-Continuou o moço, "Voces vira bicho na hora que quer? qualquer bicho?,..." O garoto tímido como todos da região se limitou a dizer,..."É mentira do povo moço, eu mesmo só sei virar num porco espim, e nem é todo dia",.....