sexta-feira, 25 de março de 2011

Não sei como se fazem salsichas, mas sei como se fazem algumas notícias

Texto por Reinaldo Azevedo :
Certas notícias nos levam àquela expressão de uma brasileiro ilustre: “Ai, que preguiça!” . Maria Fernanda Ramos Coelho deixou a presidência da Caixa Econômica Federal. Vai ser a representante do Brasil no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), tadinha! Assume o comando da CEF Jorge Hereda, que tem o cargo de “Vice-Presidente de Governo” — nome esquisito, né? Achei que esse fosse o Michel Temer… Não sei como se fazem salsichas, mas sei como se fazem algumas notícias. Qual versão você escolhe, leitor?
Versão A
Dilma Rousseff, severa que é, decidiu trocar todo o comando da CEF depois do escândalo do Banco Panamericano, aquele que era do Sílvio Santos. Afinal, menos de um ano antes de a instituição quebrar, a CEF achou que o negócio era tão bom, e a instituição, tão sólida que comprou 49% das ações, ao custo de quase R$ 800 milhões. O resto da história vocês já conhecem.
Versão B
Há uma dança de cadeiras no primeiro escalão da CEF — em alguns casos, ficam os diretores, mas em novas funções. O sapo de fora é mesmo o ex-deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB da Bahia. Opositor ferrenho de Lula no primeiro mandato, governista ferrenho no segundo, a ponto de ter virado ministro, resolveu disputar o governo da Bahia com Jaques Wagner (PT) e quebrou a cara. Dilma decidiu premiá-lo com a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da instituição. Maria Fernanda não teria gostado e , então, pediu demissão.
Vamos fazer agora, leitor, alguns exercícios de escolha editorial.
Título A
“Depois de escândalo do Panamericano, Dilma muda presidência da Caixa”
Essa é a versão “dilmista” da notícia. Dá a entender que a presidente, durona como é, não perdoou aquela batatada.
TÍTULO B
“Governo põe Geddel na CEF; presidente da instituição prefere ir para o BID”
Essa versão dá a entender que Maria Fernanda não gostou da nomeação, escandalosamente política.
Qual é a verdade?
Provavelmente, nem uma coisa nem outra. Escrevo isso por puro exercício de lógica.
Contestação A
Se o governo ficou bravo com a falta de apuro técnico — na melhor das hipóteses — que resultou na compra do Panamericano, não demonstraria seu amor pelo rigor dando emprego para Geddel.
Contestação B
Mesmo sem o aporte “intelectual” de Geddel, Maria Fernanda comandou aquela batatada da compra do Panamericano e não teria por que reclamar da eventual falta de expertise do político.

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