'Não adianta
nada ter um preço bom se a soja não pode ser entregue', afirma o gerente de
grãos e óleos da empresa.
PEQUIM - A chinesa Sunrise disse nesta quarta-feira, 20, que teria
"enorme prejuízo" se não cancelasse a compra
de 2 milhões de toneladas de soja do Brasil em razão de atrasos nos embarques e
negou que a decisão seja uma estratégia para renegociar os preços do produto."Não
adianta nada ter um preço bom se a soja não pode ser entregue. Se a situação do
transporte melhorar, nós podemos reconsiderar e voltar a comprar",
declarou ao Estado o gerente de grãos e óleos da empresa, Shao
Guorui. Segundo ele, a Sunrise estuda a possibilidade de compensar o
cancelamento dos contratos com a aquisição de soja na Argentina a partir de
abril..Shao disse que a empresa deveria
ter recebido seis navios em fevereiro e seis em março, mas a chegada dos
carregamentos foi adiada para abril, em razão do apagão logístico que atinge os
portos brasileiros.Caminhões carregados de soja estão parados em filas
intermináveis nas estradas que dão acesso ao porto de Santos, o principal
canal de escoamento do produto, responsável por um terço dos embarques. Sem a
possibilidade de serem carregados, os navios não podem atracar nos
terminais.Diante dos atrasos, a Sunrise cancelou a carga de dez navios que já
deveriam ter chegado e de outros 23 que deveriam atracar em portos chineses nos
próximos meses. "Não há nem informação de quando os navios estarão
prontos", observou.
Preços
Shao afirmou
que o preço atual da soja na China é maior que o do produto comprado no Brasil,
em razão de limitações na oferta. Mas com os atrasos, os carregamentos só
chegariam aos portos chineses em abril ou maio, quando as cotações terão se
reduzido em consequência da entrada de novas safras no mercado.
A diferença
entre o preço atual e o de chegada do produto na China é a origem do
"enorme prejuízo" previsto pela Sunrise. "O preço na China agora
está alto, porque o suprimento é pequeno, mas em abril e maio, quando uma
grande quantidade de soja entra no mercado chinês, o preço vai cair",
justificou.
A empresa é
uma das maiores importadoras de soja do país e compra cerca de 8 milhões de
toneladas do produto por ano, das quais 3 milhões vêm do Brasil. "Eu
espero que a situação melhore", disse, em relação ao apagão logístico.
O Brasil é o
principal exportador de soja para a China, que é de longe o maior consumidor
mundial do produto. No ano passado, os embarques para o país asiático
representaram quase 70% dos US$ 17,5 bilhões de exportações nacionais do
produto. A China importou 58 milhões de toneladas de soja, dos quais cerca de 40%
vieram do Brasil.
"O
cancelamento vai ter grande impacto no mercado chinês no curto prazo",
observou o analista Zhang Lei, da Hongyuan Futures. Em sua avaliação, o país
dependerá cada vez mais da América Latina para suprir sua crescente demanda de
soja. "O problema é que a infraestrutura na região é muito pior que a dos
Estados Unidos, especialmente em logística e estocagem", ressaltou _os
norte-americanos são o segundo maior fornecedor do produto.
*Cláudia Trevisan
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