sexta-feira, 22 de março de 2013

O governo, Eike e um lobby de R$ 500 milhões.

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, atuou junto ao Itamaraty para tentar obter recursos para projeto do empresário Eike Batista.

 
Há um mês, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, trabalha para convencer uma empresa estrangeira a transferir um investimento de R$ 500 milhões no Espírito Santo para um empreendimento do empresário Eike Batista no Rio de Janeiro. Pimentel e um lobista de Eike lobista com padrinhos poderosos em Brasília pressionaram o embaixador doBrasil em Cingapura, Luís Fernando Serra, a conseguir um encontro de Pimentel com executivos da SembCorp Marine, sediada no país asiático. O objetivo era fazer com que a Sembcorp transferisse seu projeto de construção do estaleiro Jurong Aracruz, do Espírito Santo para Porto Açu, projeto de Eike em São João da Barra, no litoral do Rio de Janeiro. E o lobby já deu resultados. Na quarta-feira da semana passada, Pimentel recebeu, em seu gabinete, os executivos da SembCorp.
O embaixador Serra contou a ÉPOCA os detalhes da pressão que recebeu. No dia 4 de fevereiro, ele recebeu um email de Amaury Pires, diretor de relações institucionais da EBX, uma das empresas de Eike. Entre 2010 e 2011, indicado pelo deputado Valdemar Costa Neto, do PR deSão Paulo, aquele recentemente condenado no julgamento do mensalão, Pires foi diretor do Fundo da Marinha Mercadante, vinculado ao governo e destinado a financiar a indústria naval brasileira. No ano passado, quando Pires já trocara de lado e passara a trabalhar na EBX, as empresas de Eike foram autorizadas a receber R$ 1,5 bilhão do Fundo da Marinha Mercante do total de R$ 7 bilhões previstos em investimentos pelo fundo.
Dois dias depois, em 6 de fevereiro, Pires telefonou para o embaixador Serra. Parecia falar como dirigente do governo. Disse que o Porto Açu um terminal portuário e logístico de R$ 4,5 bilhões era um projeto estratégico para o governo federal. Foi além: pediu ajuda ao embaixador Serra para viabilizar um encontro de um representante da empresa SembCorp com "um ministro brasileiro". Naquele momento da conversa, Pires não especificou qual ministro. Pires não mediu palavras: avisou que o objetivo do encontro era convencer a SembCorp a estabelecer o estaleiro no Porto Açu, e não mais no Espírito Santo. Para mostrar que não usava o nome de Fernando Pimentel em vão, Pires avisou ao embaixador Serra que este seria procurado em breve pelo ministro.
Pires vendeu ao Itamaraty a ideia de que os interesses de Eike coincidiam com os do governo brasileiro. Dois dias depois, como havia prometido o diretor da EBX, Pimentel telefonou ao embaixador Serra. Pediu que ele acertasse o encontro com o representante da SembCorp, emBrasília. Deixou implícito que a conversa trataria da possibilidade de transferência do estaleiro para o porto de Eike. Em seguida, como é de praxe, Serra recebeu na Embaixada um ofício em papel, em que Pimentel solicita seus bons préstimos para marcar o encontro. Recebeu também uma cópia por email. A missão oficial de Serra envolvia trocar o representante da SembCorp. No início, um diretor encontraria o ministro. Mas o governo e a EBX queriam alguém com autonomia suficiente para decidir pela troca do investimento de um local para outro.
Mesmo após o contato de Pimentel, Pires continuou a procurar o embaixador em Cingapura por telefone e email. Foram inúmeras e incontáveis vezes , afirma Serra. O assunto era sempre o mesmo: acertar o encontro entre o executivo da SembCorp e o ministro. Em todas as ocasiões, ele (Amaury Pires) mencionava que o objetivo era levar o investimento para o Porto Açu. Meu trabalho foi, a pedido do ministro Pimentel, viabilizar o encontro. Como a reunião realizada na semana passada entre Pimentel e os executivos da Sembcorp deixa claro, Amaury Pires e a EBX alcançaram seu primeiro objetivo na tentativa de levar dinheiro para Porto Açu.
A forcinha do governo vem a calhar para o empreendimento de Eike Batista em Porto Açu. Como muitos dos negócios de Eike, esse também enfrenta problemas. O Porto Açu foi lançado como um ousado empreendimento para escoar a produção de minério de outra empresa do grupo, a MMX, em Minas Gerais, para exportação. No papel, o porto teria ainda área para a instalação de outras empresas. Poderia gerar 50 mil empregos. A principal empresa a se instalar no porto seria uma siderúrgica do grupo chinês Wuham Iron and Steel Co. (Wisco). No ano passado, porém, a Wisco desistiu do negócio por falta de infraestrutura no local. Há problemas também com o Ministério Público Federal. O MPF questiona o porto na Justiça. Segundo procuradores, Eike recebeu do governo do Rio de Janeiro, indevidamente, um terreno de utilidade pública para realizar a obra e o terreno não poderia usado para fins comerciais.
Na semana passada, após saber que Pimentel recebera os diretores da empresa de Cingapura, mas ainda sem conhecimento dos bastidores agora revelados por ÉPOCA, o senador Ricardo Ferraço, do PMDB do Espírito Santo, acusou o embaixador Luís Fernando Serra de fazer lobby em favor de Eike. Em pronunciamento na tribuna do Senado, Ferraço disse que Serra teria pressionado a empresa a mudar seu investimento do Espírito Santo para o Porto Açu. Ferraço prometeu enviar ao Itamaraty um pedido de informações sobre a conduta do embaixador Serra. Estão batendo na pessoa errada , diz Serra. Tenho 40 anos de carreira. Eu não tomaria nenhuma iniciativa sem instruções superiores. Marquei a reunião a pedido do ministro Pimentel. A ÉPOCA, Serra afirma que enviará a seus superiores os diversos emails que recebeu de Amaury Pires, além do ofício remetido por Pimentel.
Em curta nota, o ministro Fernando Pimentel afirma que recebeu o vice-presidente-executivo da Sembcorp, Tan Cheg Guan, e o diretor financeiro da empresa, Tan Cheng Tat, para discutir a ampliação dos investimentos da companhia no Brasil . A nota diz ainda que em nenhum momento se discutiu a transferência do investimento no estaleiro Jurong Aracruz, que a empresa de Cingapura constrói no Espírito Santo . A SemCorp negou, por meio de nota, a intenção de deixar o Espírito Santo. O grupo afirma que o objetivo do encontro de seus executivos com o ministro Pimentel foi discutir potenciais investimentos no Brasil. Para o grupo EBX não há o que comentar , disse a nota enviada pela assessoria de imprensa de Eike. Abordado por ÉPOCA, Pires afirmou: Não tem nada disso, não. Não tem nada a declarar, não, amigo. Obrigado pela sua atenção. Forte abraço para você. Muito sucesso .
*POR: LEANDRO LOYOLA

Um comentário:

carlos henrique disse...

Esta promiscuidade entre empresários e autoridades do governo sempre existiram de uma forma velada pois a corrupção ficava restrito a algumas poucas autoridades. Desde que o PT assumiu o governo federal este tipo de negócio foi tão incentivado que acabou fazendo parte do cotidiano, isto porque além o enrriquecimento pessoal todos são obrigados a dar uma parte para o caixa 2 do PT, vide as empreiteiras e bcos arcando com todos os custos das viagens do Lula em paises da América Latina e Africa, onde as empresas brasileiras estão realizando grandes contratos de prestação de serviços.