segunda-feira, 18 de março de 2013

Um papa querido pelos pobres.

Papa Francisco é adorado nas periferias de Buenos Aires. Ações sociais, jeito simples e ar tipicamente argentino de Jorge Bergoglio conquistaram moradores das villas, áreas mais carentes da cidade.

Um homem simples, alegre e preocupado com os pobres. Esse é o perfil traçado por pessoas que conviveram com o papa Francisco, na Argentina. Os repórteres do Fantástico foram a Buenos Aires para mostrar lugares marcantes na vida de Jorge Bergoglio. E viram o que os fiéis podem esperar dessa mudança no comando da Igreja.
"Vieram buscar um Papa no fim do mundo", disse Jorge Bergoglio ao se tornar o mais alto líder da Igreja Católica.
O fim do mundo do Papa Francisco começa em Buenos Aires, bairro de Flores, Rua Membrillar, 531. O Fantástico entrou na casa em que Bergoglio nasceu.
Pouco sobrou do desenho original, mas os atuais donos mantiveram uma parte da fachada antiga no quintal e também a varanda.
"Agora, olho para essa escada e penso em quem subiu nela", diz Marta. A escada antigamente dava para um terraço. Quando Bergoglio morava lá, a casa só tinha um andar.
Arthur lembra das conversas com o ex-morador na juventude. "Festejava com a gente", conta o dono da casa.
A família Bergoglio era formada pelo casal e cinco filhos. Jorge, de 76 anos, e Maria Elena, de 71, são os únicos vivos.
A irmã do Papa mora hoje em Ituzaingó, a 30 km do bairro em que nasceu. Ela mal conseguiu ouvir o seu sobrenome ecoar pelo Vaticano. “Quando o anunciaram, quase morro”, conta.
Maria Elena ainda não falou com o irmão, mas o encontro dos dois já tem data e lugar. “Quero ir ao Brasil!", diz ela.
O país deve ser a primeira viagem internacional do Papa Francisco. Em julho, ele vai participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio.
A irmã conta que Jorge sempre foi muito alegre. Quando era pequeno, gostava de ir para a rua e brincar com os amigos na antiga vizinhança.
O bairro de Flores mudou muito desde que os Bergoglio saíram. As casas eram muito mais simples. Hoje, já foram quase todas reformadas, mas alguns lugares que marcaram a infância do hoje Papa Francisco continuam, como a pracinha em que ele jogou bola até os 14 anos de idade.
Todo lugar tem lembrança de Jorge Bergoglio. No prédio em frente à praça, o pai trabalhava como contador em uma fábrica de meias. Do outro lado da rua, a mercearia do avô. Andando mais um pouco, a escola. O boletim do Papa aos 12 anos mostra que a disciplina com média mais alta era religião.
Era um frequentador, com toda a família, da igrejinha do bairro. Lá, um painel foi montado para homenagear o antigo morador de Flores.
E, a três casas dos Bergoglio, ainda vive Amalia, a namoradinha do Papa. Eles tinham 12 anos quando o Papa Francisco disse a ela: “se você não casar comigo, viro padre”. Ele virou.
Em 1992, quando se tornou bispo, foi morar na Arquidiocese de Buenos Aires, ao lado da catedral.
Do apartamento no segundo andar, vê a Casa Rosada, sede do governo argentino.

Ele sempre esteve envolvido com a política do país. Foi acusado de ser omisso com mortes e desaparecimentos durante a ditadura. Ele nega.
A presidente Cristina Kirchner é alvo de duras críticas do Papa. A principal delas falta de atenção com os pobres.
Alex tem 26 anos. Está desempregado. Há dois anos, vive em uma lona improvisada no térreo da arquidiocese. "Bergoglio me ajudou a não ser expulso", diz ele.
Como bispo recusou os privilégios do cargo. Ele dispensou o motorista da Igreja e andava pela cidade de metrô ou de ônibus.
Ele fazia um percurso principalmente para visitar as villas, assentamentos ilegais parecidos com as favelas brasileiras. Há 850 delas na grande Buenos Aires, com três milhões de pessoas. Um em cada três habitantes de Buenos Aires sobrevive com menos de R$ 8 por dia.
A maior villa é a Villa 21. Bergoglio estava sempre por lá. Fazia questão de celebrar missas de primeira comunhão e crisma - para reafirmar o catolicismo entre crianças e adolescentes. Atuava como padre local mesmo sendo bispo.
Maria José, de sete anos, levou as fotos para o colégio para mostrar o dia em que foi batizada pelo Papa. “É importante porque já passou de um padre a agora é um Papa”, diz.
No dia 8 de dezembro, dia da Santa Padroeira do bairro, ele realizou a última missa. Na Páscoa, Bergoglio lavava os pés dos fiéis e depois os beijava, um ato inspirado em São Francisco de Assis.
Para o padre Lorenzo, um exemplo de humildade. Recentemente, conta o padre, abençoou um fiel dentro do ônibus, no caminho para casa.
Uma das principais ações quando Bergoglio se tornou bispo de Buenos Aires foi trazer a Igreja cada vez mais para perto das comunidades da periferia. Ele implantou varias ações sociais nos bairros mais pobres, inclusive a construção de refeitórios para pessoas idosas e portadoras de deficiências.
São outros três como esse só em um bairro. E na porta ao lado, o menino encontrou um teto. Faz quatro anos que os pais não puderam cuidar mais dele. Acabou vindo morar no abrigo mantido pela igreja. Vive uma rotina normal. Frequentemente recebia a visita do atual papa.
Bergoglio é adorado nas villas de Buenos Aires pelas ações sociais, seu jeito simples e um ar tipicamente argentino.
Ele gosta de tango, tomar mate, contar piadas e futebol. O time do coração é o San Lorenzo. Neste sábado (16), durante um jogo contra o Santa Fé, os jogadores fizeram uma homenagem. Nas camisetas, a foto do Papa Francisco estampada.
O rosto dele está por toda a cidade. Francisco leva para o Vaticano a realidade do fim do mundo. Com um Papa da periferia, a Igreja busca na simplicidade uma resposta para o futuro.
Neste domingo durante a noite, segundo agências de notícias, o Papa telefonou para a irmã em Buenos Aires. Maria Elena Bergoglio disse que o irmão transmitiu muita alegria. Ela disse também que, apesar da distância, os dois estão juntos espiritualmente.
Nota: O Fantástico mostrou imagens antigas do Papa onde ele aparece beijando os pés dos fieis, e disse que o gesto foi inspirado em São Francisco de Assis. Muitos telespectadores entraram em contato para dizer que o gesto foi inspirado em Jesus, que beijou os pés dos discípulos. Na verdade, a reportagem quis dizer que o gesto do Papa foi inspirado na humildade de São Francisco, que segundo a tradição, beijava inclusive doentes de lepra. ( G1)

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