Em
franco processo de “cubanização”, a cena se repete atualmente tanto nos supermercados
como nas farmácias venezuelanas, principalmente na capital, Caracas. Clientes
com semblantes sisudos e mal humorados por não encontrar alimentos e os
medicamentos que procuram com os empregados que atendem tendo que lidar com as
queixas de muitos clientes que esbravejam contra o governo pela escassez e
insegurança alimentar bem como dos doentes que não conseguem seguir os
tratamentos prescritos por seus médicos pela inexistência dos medicamentos
receitados nas farmácias.
Clientes compram remédios
nesta última sexta feira, 10 de maio, numa farmácia de Caracas, a cada dia mais
vazias e parecidas com as farmácias cubanas.
O desabastecimento de
alimentos e de medicamentos é resultante das dificuldades impostas pelo regime
de Caracas à importação, decorrentes do controle estatal do câmbio em vigor na
Venezuela na última década, por um lado, e, por outro lado, pela queda vertiginosa
da produção privada em consequência da fuga de capitais e de mão de obra
especializada para fora do país, no mesmo período.
“Não apenas o pão nosso
de cada dia está difícil de encontrar, mas os remédios também e o povo já
enfrenta muitas filas que mal conseguem chegar ao meio sem que a notícia de que
‘o estoque acabou’ chegue para os que ali esperam às vezes por horas”, disse um
aposentado de 72 anos que afirma ter passado quase todo o dia em busca de um
remédio que usa para diabetes. “Faz tempo que eu tomo esse medicamento e agora
está cada vez mais difícil consegui-lo”, diz o idoso.
A cena se repete a cada dia nas farmácias venezuelanas onde as
expressões de insatisfação dos clientes estão estampadas em seus rostos por não
encontrarem os remédios que necessitam para continuar seus tratamentos.
Esse mesmo problema tem sido enfrentado pela maioria dos venezuelanos, que
muitas vezes têm que percorrer muitos supermercados e inúmeras farmácias para
conseguirem os produtos que desejam. Mesmo que tal situação não seja nova, ela
de fato tem se agravado desde o início do ano em função das dificuldades que
enfrentam os laboratórios e os importadores de alimentos em comprar os dólares
necessários para pagar seus fornecedores internacionais, uma vez que o governo
eliminou um sistema de câmbio alternativo pelo qual essas empresas importadoras
podiam comprar dólares.
Medicamentos como colírios, pílulas para dormir e para tratar a hipertensão
arterial e o diabetes e até coquetéis antirretrovirais contra a AIDS viraram
mangas de colete nas farmácias e centros clínicos. A indústria farmacêutica
local atribui a escassez a uma lei que mantém, congelados há 10 anos, os preços
de 30 por cento dos remédios disponíveis no país e ao atraso do governo em
entregar ao sector as divisas necessárias para a importação. Os laboratórios,
por outro lado, não investem mais quase nada em pesquisa ou mesmo em melhorias
técnicas onde também falta muita mão de obra qualificada.
“Dois problemas maiores parecem agravar o desabastecimento: o primeiro é o
acesso aos dólares do governo que por sua vez provêm do petróleo, uma vez que o
investimento privado caiu praticamente a zero no país por absoluta insegurança
jurídica. O governo leva 180 dias em média para liberar os dólares para a
importação de alimentos e remédios, isso sem falar em máquinas e insumos à
produção de qualquer natureza e o segundo problema tem a ver com os preços de
cerca de 1.400 medicamentos e inúmeros alimentos desde 2003”, explicou um
diretor da Câmara da Indústria Farmacêutica, Ángel Márquez.
O governo costuma culpar por essa situação os “empresários inescrupulosos” que
a julga serem ‘especuladores’ do preço dos medicamentos e dos alimentos e tem
reagido com “tentativas de impulsionar a produção farmacêutica nacional”, ainda
amplamente dependente da iniciativa privada, e que, por isso mesmo e no calor
de uma série de convênios assinados com vários países, principalmente com Cuba,
não está investindo mais nada em suas indústrias, onde a estatização pode vir a
qualquer momento e sem aviso prévio.
A demora no fornecimento de dólares bate com força especial nos laboratórios,
que têm que vencer uma série de obstáculos para ter em sua posse os dólares que
compram devido ao controle do câmbio, moroso e burocrático, onde alguns relatam
que têm que “pagar propinas por fora” para “acelerar a tramitação” para que as
empresas consigam comprar os produtos pelo preço oficial. “A situação é cada
vez mais complexa e a inadimplência é crescente”, disse um representante da
entidade de classe farmacêutica.
Tais dificuldades têm levado ao paroxismo a inventividade dos venezuelanos,
focados nas redes sociais do Facebook e do Twitter, para tentar conseguir os
medicamentos e gêneros alimentícios que precisam. Outros se organizam e pedem
ajuda aos seus vizinhos e amigos.
Há pessoas desesperadas por não conseguir remédios que necessitam e mesmo
alimentos básicos como ovos, leite, carne e frango. As farmácias pedem aos
pacientes que deixem seus números telefônicos que sejam chamados quando o
medicamento chegar à farmácia e pelo qual uma parte já foi paga.
Há muita escassez, muitas filas, e até numeração de antebraços para compra de
alimentos. A queixa é de todo mundo, mas, lamentavelmente, as pessoas pouco
podem fazer para mudar esse quadro sombrio no país. Afinal, fizeram o que
tinham que fazer para eleger Capriles, mas sabiam muito bem que o regime
fraudaria, como parece ter sido o caso, as eleições que deram a vitória a
Nicolás Maduro.
*Francisco Vianna, com mídia internacional, via Grupo Resistência Democrática
Um comentário:
CARTA ABERTA AO GENERAL ENZO PERI
www.alertatotal.net
Postar um comentário