quinta-feira, 16 de maio de 2013

Qual o limite da canalhice.



OS CANALHAS
 
Os canalhas estão em alta no Brasil. Organizados ou não, eles são muitos. Em um país como o nosso, onde apostam que jamais serão pegos, se proliferam como ratos de esgoto. De onde menos se espera, de repente, surge uma pilantragem das grandes. Gente sem caráter existe em qualquer lugar do mundo. O ser humano é imperfeito. Mas aqui eles estão por cima. Sabem que se forem pegos poderão contar com uma legislação penal atrasada, com governos e legisladores coniventes por absoluta omissão, e com um Judiciário cuja mentalidade é “pró-impunidade”, como disse o presidente do STF, Joaquim Barbosa. Agora, e era só o que faltava, os ratos avançaram sobre o leite...
É de estarrecer este escândalo da adição de produtos nocivos à saúde ao leite que bebemos todos os dias. É algo cretino, hediondo. Para aumentar o volume que seria entregue às indústrias e aumentar os lucros, os transportadores adicionavam água e químicos. Para cada mil litros de leite cru, recém-extraído da vaca, eles despejavam 1 quilo de uma substância semelhante à ureia e água. O produto contém formol e é altamente tóxico se ingerido por seres vivos.
Canalhas têm valores éticos e morais diferentes das pessoas de bem, sabemos disso. Mas qual o limite da canalhice? Parece não haver. Em um dos diálogos telefônicos interceptados pelos promotores, antes de ocorrer a mistura, o dono de uma transportadora teria dito a um funcionário: "Separe o leite da guachaiada", referindo-se aos filhos e à família. Ou seja, ele separava o produto bom para consumo próprio e das pessoas amadas, enquanto envenenava a população.
Reflitam comigo. Onde está a solidariedade? Onde está o respeito mínimo pelo ser humano? Onde está o respeito às leis? Não é assim que se vive em sociedade. Não é logrando as pessoas, roubando dos consumidores, envenenando alimentos, colocando nossas vidas em risco que um empresário deve se estabelecer. De que adianta ter uma frota de três dezenas de caminhões, como tinha um deles, ao custo de contaminar o leite que ingerimos? Quanta diarreia, quantos problemas intestinais, quanta dor de cabeça quem consumiu acabou tendo sem saber? Fora o desenvolvimento de outras doenças. Fala-se até em câncer no consumo de longo prazo. Deus do céu...
Uns dois meses atrás comprei uma destas marcas de leite agora retiradas do mercado. O gosto não era o problema, mas o leite estava por demais aguado e sem consistência para um produto integral. Quase transparente.
Era estranho. Não consumi mais. Agora, os promotores anunciam a apuração da responsabilidade das indústrias. Elas pecaram, no mínimo, por omissão.
Se fosse nos EUA teríamos a certeza de que estes bandidos estariam na cadeia para sempre ou até no corredor da morte. Na China então, modelo que não cultuo, em caso análogo três foram condenados à morte e executados em poucas semanas. Aqui, sabe-se lá o que acontecerá com eles. Sabe-se lá o que acontecerá conosco que consumimos este lixo. Sabe-se lá o que mais estamos comendo e bebendo que nos coloca em risco. Boa sorte.
*(Diego Casagrande - 14.05.2013 - jornal Metro Porto Alegre

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