Dois movimentos se
juntaram hoje para protestar em São Paulo, o MST — Movimento dos Sem Terra — e
o MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Este é a versão urbana daquele.
As táticas são as mesmas: invasão de propriedade privada, depredação e violência.
O chefão do MST é João Pedro Stédile, um economista que nunca passou
dificuldade na vida. O líder com mais visibilidade do MTST é Guilherme Boulos,
um rapaz de classe média alta que decidiu se dedicar, vamos dizer, à causa. Ok.
A origem social não determina as escolhas. Lênin, o líder da revolução russa,
era filho de um alto funcionário do czar. O pai de Trotsky era um rico
latifundiário. E os filhos, no entanto, estão na origem do terror comunista,
que viria a responder por algo em torno de 150 milhões de mortos. Ainda é a
ideologia que mais matou na história da humanidade.
Por que destaco a origem
social desses supostos líderes? Porque é preciso distinguir a causa justa da
manipulação política. O Brasil conta com programas de reforma agrária e de
construção de moradias. Tanto os sem-terra como os ditos sem-teto são interlocutores
ativos no estado brasileiro num e noutro. É sabido que o Ministério do
Desenvolvimento Agrário está praticamente entregue ao MST. O tal MTST tem
direito a uma cota de casas populares construídas pelo Poder Público. Terra e
casas são distribuídas preferencialmente a seus militantes, o que é um absurdo.
Nesta quinta, os dois
grupos se juntaram para ocupar os prédios de três grandes construtoras em São
Paulo: Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez. Faziam reivindicações específicas de
sua área e protestavam contra a Copa do Mundo. As respectivas sedes das
empresas foram pichadas. As manifestações mais agressivas foram suspensas
depois que a presidente Dilma, que está em São Paulo para inaugurar o inacabado
Itaquerão, convidou os líderes dos protestos para um encontro.
É uma irresponsabilidade,
senhora presidente da República! Mais uma vez, a chefe do estado brasileiro
cede ao jogo da truculência. Cometeu o desatino de receber líderes do próprio
MST em Brasília depois de uma tentativa de invasão do STF, no dia 12 de
fevereiro. Trinta policiais ficaram feridos então. No dia seguinte, num ato
político do movimento, estiveram presentes representantes do PT, do PSB, do
PSOL e do próprio governo federal.
E agora o mais patético:
o governo tem um chamado “interlocutor” para dialogar com estes que se dizem
“movimentos sociais”. É o senhor Gilberto Carvalho, secretário-geral da
Presidência da República. Confesso a vocês que nunca entendi até onde ele é um
negociador ou um incitador da violência. Não custa lembrar que, até outro dia,
este senhor estava a fazer especulações sobre a natureza social dos rolezinhos,
tentando lhes emprestar um caráter de guerra racial. Carvalho tentou
transformar uma manifestação que era para dar beijo na boca, para lembrar o
poeta Augusto dos Anjos e com o perdão da palavra, na véspera do escarro da
luta de todos contra todos.
Dilma Rousseff, a que
recebe baderneiros, precisa ficar atenta para saber se seu colaborador
realmente colabora para diminuir as tensões sociais ou se é um incitador de
protestos, de olho, quem sabe, na substituição da candidatura do PT à
Presidência da República. Mais uma vez, simbolicamente, Dilma vai levar a
baderna para dentro do Palácio, deixando claro que a violência é um meio
aceitável de reivindicação. Esta senhora está, na prática, criando as condições
para um país ingovernável, seja ela a eleita, seja outro.
*Por Reinaldo Azevedo, na Veja online
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