A ex-deputada e dirigente
oposicionista venezuelana Maria Corina Machado dá uma entrevista de imprensa na
quarta feira de ontem em Caracas. Maria Corina anunciou que vai comparecer
perante a Promotoria pública para se defender das novas acusações do chavezismo
de um pressuposto plano de “magnocídio” (assassinato de autoridades) e “golpe
de estado” contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. (Foto de Miguel
Gutiérrez/EFE)
Todo
o “imbroglio” armado por Caracas confirma os boatos de que a cúpula do
chavezismo, atendendo recomendações de Havana, estava preparando uma série de
manobras ‘legais’ para prende a ex-deputada Machado e o ex-chanceler Arria pelo
fato de ambos terem tido um papel decisivo nas denúncias perante a comunidade
internacional sobre as violações dos direitos humanos na Venezuela.
Tais denúncias, feitas pelo
prefeito do município de Libertador de Caracas, Jorge Rodríguez, junto com
diversos correligionários dirigentes do chavezismo numa rodada de imprensa, foi
baseada em e-mails supostamente enviados por Maria Corina, nos quais defende
estratégias políticas para derrubar Maduro.
No entanto, a ex-deputada da
oposição garante que “os e-mails são forjados e que se tratam de mensagens que
foram redatadas pelo próprio regime para criar um falso dossiê e abrir um
processo judicial contra ela”. Declarou ainda que “este governo é pura mentira
e ninguém acredita no que diz […] e estas supostas provas contra mim, forjadas por
ele, no fundo o incriminam e acusam os que levantam hoje tais calúnias contra
mim através de falsas denúncias”, ao acusar agentes do regime de terem cometido
os delitos de simulação de fatos puníveis, usurpação de identidade e de
incitação ao ódio. “O que acontece é que essa gente se sente inatingível e acha
que pode fazer o que quer, ao arrepio da lei. Acreditam que podem fazer
qualquer coisa, ameaçar e perseguir pessoas, e acusar quem queiram, na certeza
de que nada vai acontecer contra esses detratores”.
Por sua vez, Arria também
rechaçou com veemência e indignação que seja o autor dos comentários
incriminadores que foram expostos por Rodríguez em sua denúncia perante os
jornalistas. Numa mensagem postada em sua conta de Twitter, Arria explicou que lhe
roubaram seu telefone celular e através dele, os agentes do regime tiveram
acesso as suas pastas de e-mails e de suas páginas em redes sociais e
fabricaram mensagens que de modo algum foram escritas por ele.
Segundo o prefeito chavezista
denunciante, o complô visava a derrubada de Maduro e seu eventual assassinato,
no qual terminaria sendo o último de uma longa sequência de complôs anunciados
pelo regime nos últimos meses. A acusação de magnocídio, que segundo Rodríguez
faz parte de uma investigação criminal, está sustentada no conteúdo de um vídeo
que mostra uma “sessão de treinamento para assassinar” Maduro. Alegando que o
vídeo é muito violento para ser visto, Rodrígues não o mostrou, mas garantiu
que Maria Corina Machado escreveu sobre os planos de assassinar Maduro num
e-mail enviado ao ex-candidato presidencial Henrique Salas Romer. “Os e-mails
estão sendo submetidos à justiça venezuelana por seu ‘teor golpista’ e
planejamento de magnocídio”, disse o prefeito chavezista.
Em outros e-mails exibidos por
Rodríguez, Maria Corina Machado supostamente revela que os protestos de rua são
parte do complô para derrubar o regime.
Em parte
deles é possível se ver que Maria Corina Machado teria enviado ao advogado
constitucionalista Gustavo Tarre Machado uma mensagem expressando que “a luta
prossegue como foi compromissada. Não tenho medo de quem quer que seja”, disse
Rodríguez.
Como sempre,
as alegações de Rodríguez denunciam que o suposto complô está sendo financiado
do exterior pelo banqueiro Eligio Cedeño, que mora em Miami. Tal afirmação
havia sido revelada em outro e-mail no qual a ex-deputada declara: “Eligio
Cedeño está ciente do que debe fazer”.
Rodríguez, fe
zuma estranha comparação ao dizer que Maria Corina Machado “quer para Venezuela
o que está ocorrendo na Ucrânia e agora na Tailândia”.
Também o
embaixador dos EUA em Bogotá estaria envuelto (é claro) no suposto complô,
mantendo-se em comunicação com os “conspiradores”, segundo a versão chavezista.
Rodríguez questionou se Barak Obama ou a subsecretária para o hemisfério
ocidental, Roberta Jacobson, estariam cientes do fato de que a “oposição
venezuelana pede conselhos a um funcionário de governo americano como Whitaker.
Segundo o denunciante, há provas que incriminam o embaixador em diversos
delitos...
Maria Corina
Machado, por sua vez, destacou que os supostos e-mails são fabricações
grosseiras e mal feitas porque nem sequer refletem seu estilo de escrever. “Nem
sequer isso eles sabem fazer direito, nem sequer podem apresentar uma montagem
crível”, disse ela.
“Precisamente,
são esses os expedientes utilizados de modo reiterado por Fidel Castro para
perseguir a quem ouse se opor a ele em sua infeliz ilha […] e pelos quais o
ditador levou muita gente ao paredão de fuzilamento”, acrescentou a
ex-deputada.
Sacudido por
uma incessante onda de protestos que já dura quase quatro meses, o regime de
Maduro tem se ocupado a “denunciar” uma série de complôs que pretendem
justificar a reação estatal repressiva perpetrada contra os manifestantes e a
sociedade civil, que já produziu pelo menos 42 mortos, e perto de
800 feridos. Mas essas denúncias servem também para levar
manifestantes e líderes da oposição a enfrentar ações de uma justiça amplamente
aparelhada e submissa ao regime que faz com que a Venezuela, na verdade, seja
uma ditadura travestida de democracia. E tudo é feito sob a recomendação de um
exército de assessores cubanos enviados pelo regime de Havana que, de fato, são
os autores intelectuais da repressão na Venezuela, segundo testemunhas de
ex-agentes de inteligência e fontes com acesso direto a autoridades ativas das
Forças Armadas Nacional Bolivarianas.
As ações
recomendadas por Havana incluem as prisões Maria Corina Machado, de Arria e de
companheiros de partido do líder opositor preso Leopoldo López, além da adoção
de “medidas de envergadura” para incutir o medo na população e em particular
nos manifestantes.
* FRANCISCO VIANNA (da mídia internacional)
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