domingo, 5 de outubro de 2014

Se gritar 'pega ladrão!', não fica um, meu irmão...

            Durante muito tempo, o doleiro Alberto Youssef e o engenheiro Paulo Roberto Costa formaram uma dupla de sucesso nos subterrâneos do governo. Enquanto Paulo Roberto usava suas poderosas ligações com os altos escalões do poder e o cargo na diretoria de Abastecimento da Petrobras para desviar milhões dos cofres da estatal, Youssef encarregava-se de gerenciar a bilionária máquina de arrecadação que era usada para abastecer uma trinca de partidos e corromper políticos importantes.
            Paulo Roberto era o articulador, o cérebro da organização. Youssef, o caixa, o banco. Um apontava os caminhos para assaltar a estatal. O outro era o encarregado dos malabarismos contábeis para fazer o dinheiro chegar aos destinatários da maneira mais segura possível, sem deixar rastros.
            Em março deste ano, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Lava-Jato, que tinha o objetivo de desarticular um esquema de lavagem de dinheiro, a dupla caiu na rede. O que ninguém imaginava — nem mesmo os policiais — é que, a partir das informações dadas pelos dois criminosos, uma monumental engrenagem de corrupção, talvez a maior de todos os tempos, começaria a ruir.
            VEJA revelou que Paulo Roberto Costa, o primeiro a assinar o acordo de delação ‘premiada’ com a Justiça, entregou às autoridades o nome de mais de trinta políticos envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras, entre eles os de três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais, além de Antonio Palocci, o coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, que pediu 2 milhões de reais ao esquema.
            O ex-diretor forneceu o nome dos corruptos que se locupletavam do dinheiro desviado e das empreiteiras que contribuíam com a arrecadação da propina — um golpe já considerado letal na estrutura da organização criminosa.
            Se as revelações do ex-diretor — muitas ainda desconhecidas — já provocaram um cataclismo na placa tectônica onde está fincado o alicerce do lulopetismo, o que está por vir promete um efeito ainda mais devastador. 
            Alberto Youssef, o caixa, decidiu seguir o parceiro e contar o que sabe. E, nas palavras do próprio doleiro, o que ele sabe “vai chocar o país”. Além de confirmar que o dinheiro desviado da Petrobras era usado para sustentar três dos principais partidos da base aliada — PT, PMDB e PP —, Youssef se colocou à disposição para fechar o elo da cadeia de corrupção, fornecendo as contas no exterior, as datas de remessa e os valores repassados a políticos e autoridades que ele tinha como clientes.
            Youssef disse às autoridades que, durante o tempo em que operou o banco da quadrilha, por quase uma década, tomou o cuidado de esconder em um local seguro documentos que mostram a origem e o destino das cifras bilionárias que movimentou. É o que ele garante ser a verdadeira contabilidade do crime — um inventário que está escondido em um cofre ainda longe do alcance das autoridades brasileiras.
            O acervo é tão completo que incluiria até os bilhetes das viagens que demonstrariam o que os investigadores já apelidaram de “money delivery”, ou seja, dinheiro entregue em domicílio.
*Por Robson Bonin, na VEJA.com - Via Reinaldo Azevedo

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