Ninguém reparou no seguinte trecho do discurso de posse de
Dilma:
“O nome de milhões de guerreiras
anônimas que, voltam a ocupar, encarnadas na minha figura, o mais alto posto de
nossa grande nação.
Encarno outra alma coletiva que amplia
ainda mais a minha responsabilidade e a minha esperança”.
Note bem o termo
empregado: alma coletiva. O ghost writer do discurso
de Dilma deixou bem claro a quem o termo alma coletiva se endereça.
Quem entende o
mínimo de história do Brasil, e o mínimo de filosofia, deve ter tido um
repuxão, um vazio no fígado, um bolo duro na garganta, ao ter ouvido o termo.
Porque “alma coletiva” é definição empregada pelo nacional-socialismo, pelos
nazistas, pelos caudilhos. Pelo totalitarismo religioso, enfim.
Quem mais
entendeu sobre alma coletiva no Brasil foi o embaixador José Osvaldo de Meira
Penna, sobretudo em sua obra “Em Berço Esplêndido” (Editora Topbooks, 1999).
Meira Penna mostra, como ninguém, que Getúlio Vargas, exatamente quando o Eixo
assombrava o mundo na Segunda Guerra, vendia, a torto e a direito, a ideia de “alma coletiva”.
Meira Penna
dissecou como ninguém os perigos da “alma
coletiva” ser defendida no Brasil. E foi beber na origem de
quem apontava os perigos na alma coletiva na política: Karl Jung.
Escrita em
1936, a obra Wotan, de Jung, deixa claro os perigos da alma coletiva em
política: “A a psicose coletiva alemã surge a partir do louvor da imagem
arquetípica de Wotan, deus nórdico pagão dos germânicos, das tempestades, da
efervescência, da inspiração e da guerra”.
Segundo Jung, de
Wotan corresponde a “uma qualidade, um caráter fundamental da alma alemã, um
“fator” psíquico de natureza irracional, um ciclone que anula e varre para
longe a zona calma onde reina a cultura”.
Tem muito líder
religioso fundamentalista que adora também o termo alma coletiva. Mas
o vende como “egrégora”.
Do grego egrêgorein, «velar, vigiar”, é a soma de
energias coletivas.
O Brasil não
precisa de conceitos de coletividades, de “raízes nacionais” (como defenderam a
vida toda os hoje ministros da Cultura, Juca Ferreira, e da Ciência, Aldo
Rebelo). Quem tem raiz é planta. Coletivo é ônibus, bonde, trem e metrô.
O Brasil não
precisa de “coletivos”, de “matilhas culturais”, aliás nomes que você encontra
em vários blogs, que defendem cegamente o PT, e vivem de grana pública.
O Brasil precisa
de almas individuais, sem raízes, que defendem uma cultura universal,
planetária, sem barreiras. Individualismo dá prêmio Nobel: não o contrário
Quem mais
criticou o conceito de alma coletiva,
aliás, foi o negro mais brilhante dos EUA: W.E.B. Du Bois, homem de Harvard ,
estudado na Alemanha. Referia que a “alma vital”, a que em alemão ele chamava
de “seleleben”, ia pelo individualismo. (“O futuro será, muito provavelmente, o
que as minorias raciais individualmente fizerem dele”, notou Du Bois em sua
obra The Negro, 1915).
Dilma vai contra
tudo isso, indica o discurso de posse.
E vou te dizer
porque: porque, na brasilidade mais profunda, seja sob o PT do Mensalão barra
Petrolão, seja sob o tucanato Alstom, alma coletiva quer dizer que todos bebem
da mesma fonte.
Veja bem: Dilma
nomeou um ministério pífio para fazer favores políticos. Que, além das benesses
auferidas pelas indicações de titulares e apaniguados, são pagos pela
distribuição de grana.
O Mensalão foi a
pré-fixação dos pagamentos demandados pelos políticos coligados e de ocasião. O
Mensalão tinha valores combinados, datas de pagamento, locais de saque. Era a
corrupção tópica: local e hora de saque previamente combinados. Ainda que com
uma logística complexa de repasses.
Petrolão foi a
mesma coisa: as almas coletivas indo sacar o prometido. Mas, desta vez, direto
no caixa da Petrobras, sem uma lógica de assalto medieval tecnicamente
tão intricada como a do Mensalão.
Agora você
entende o que é a “alma coletiva” ?
Um comentário:
oportuno e bem dissecado seu texto. Jung explica e explicita o que eles tendem a esconder nas entrelinhas, deixam tudo no subliminar.
Eis um texto que ajuda...
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/o-grande-irmao/
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