sábado, 7 de março de 2015

Como um chefe de facção!


O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concedeu nesta quinta uma entrevista em que se mostrou indignado. Ele respondia à acusação do senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, segundo quem o governo havia se mobilizado para incluir da “Lista de Janot” nomes de figurões da oposição. De acordo com apuração da VEJA, o ministro disse a Sérgio Renault, advogado da UTC, que a oposição também seria engolfada pelo escândalo. Mas volto. 

Cardozo estava, escrevi, indignado. Ele é bom nisso, admito. Ao ouvi-lo falar, somos um tantinho — só um pouquinho — tentados a esquecer o que sabemos. Mas aí as coisas começam a se enfileirar na memória: a carga contra a Polícia de São Paulo quando houve um recrudescimento da violência no Estado; a sua atuação espantosa nos protestos de junho de 2013; seu protagonismo não menos estupefaciente no caso do cartel de trens e do Cade; a atuação desabrida durante a campanha eleitoral de 2014 e, por esses dias, a sua saliência na reta final do petrolão… A vontade de acreditar só um pouquinho em Cardozo passa logo. 

Não com estas palavras, mas com este sentido, o ministro negou que tenha tido alguma influência na lista elaborada por Rodrigo Janot — aquela que só tem pedidos de abertura de inquérito e nenhuma denúncia. Os dois vinham se falando com frequência, conforme revelei neste blog no dia 22. Aí ficamos sabendo que mantiveram um encontro fora da agenda. Teria servido para o ministro da Justiça alertar o procurador-geral para a elevação dos riscos à sua segurança. A PF não fez tal alerta. Quem terá sido? 

Bem, Cardozo nega interferência na lista. Janot não se pronunciou especificamente sobre o assunto, mas, em nota, sugere que coisas assim não passam de uma espécie de conspiração contra o Ministério Público. Se só os dois participaram das conversas e se ambos negam que a lista tenha sido o tema do bate-papo, a gente não tem como provar o contrário, não é mesmo? 

Mas a gente pode informar o que apura. Lá vai uma: parlamentares da situação que transitaram pelo Palácio do Planalto e cercanias políticas receberam a garantia de que a oposição iria mesmo se entubar. E, no caso, “oposição” tinha nome e sobrenome: Aécio Neves. A inclusão do presidente do PSDB na tal lista passou a ser considerada “essencial” pelos poderosos de turno. Aécio reagiu com dureza e indignação porque sabia disso, daí ter acusado a interferência do Planalto, o que levou Cardozo a conceder a entrevista desta quinta. 

E não! Não é o senador mineiro a minha fonte. Não falo com ele desde a entrevista que concedeu à Jovem Pan quando ainda candidato. Quem é? Não digo! Leiam o que andei afirmando até agora e cotejem com os fatos. Se o saldo for bom… Aécio sabe que seu nome estava na tal lista até terça-feira à tarde. Só então passou para o grupo dos que não têm de ser investigados. Por que a mudança? 

Eis uma parte da história que ainda tem de ser apurada no detalhe. Mas há ao menos uma razão óbvia: o que havia “contra” o senador era de tal sorte inconsistente que a inclusão acabaria desmoralizando o conjunto. A reputação do próprio Ministério Público ameaçava ser engolida pelo escândalo que este investigava. E, sim!, houve falas muito duras entre os que… falaram duro nesse caso. O nome de Aécio mudou de grupo, mas a indignação do seandor permaneceu. 

Ele emitiu uma nota com uma tréplica a Cardozo. Lá se pode ler: “(…) a imprensa tem noticiado as controversas e questionáveis movimentações do ministro da Justiça nos últimos meses. Elas mostram que o senhor Cardozo tem se comportado cada vez mais como militante partidário e como advogado de defesa do PT do que como ministro da Justiça”. 

Vou um pouco mais longe. 

Cardozo se comporta como chefe de facção.

*Por Reinaldo Azevedo

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