Foi estabelecido um novo maniqueísmo no poder.
Hoje os
aliados tem que escolher se estão com Lula ou com Dilma.
A questão
posta para eles parece ser a seguinte: ou você é governo ou é PT. As duas
coisas não dá mais!
Parece
brincadeira, mas o clima de desavença explícita dominou o ambiente desde que se
tornaram públicos os últimos destemperos verbais de Lula.
Nas suas
palavras, a chefe da Nação é mentirosa, está (como ele) no “volume morto” e faz
tudo errado. Criador e criatura não se reconhecem mais
A “DR” entre
eles já vem de algum tempo, mas atingiu decibéis acima do esperado. E, muito
provavelmente, o desencanto que um acalenta contra o outro esteja ligado à
queda acentuada de popularidade de ambos.
Lula viu
suas chances de retorno ao poder minguarem diante do evidente fracasso de
gestão de sua escolhida e das ameaças de investigação por responsabilidade nos
desvios apurados pela operação “Lava Jato”.
Dilma, por sua
vez, começa a perceber que as chances de seu governo terminar ficam cada vez
mais dependentes de uma ruptura tácita com os petistas.
Nesse
contexto, das profundezas do lamaçal de escândalos sem fim surge uma nova e
aguerrida oposição.
Comandada por
ninguém menos – imagine só! - que o ex-presidente Lula, líder inconteste dos
petistas e mentor da celebrada “mãe do PAC”, conduzida ali atrás diretamente
por suas mãos ao ministério e, depois, ao posto máximo da República.
Obviamente
que a ideia de descolamento entre eles, ou o movimento encenado para que isso
aconteça, não fica de pé nem por um minuto.
Os dois podem
até não comungar mais dos mesmos ideais, porém estão indissoluvelmente ligados
pela adoção em comum acordo de práticas deletérias como o aparelhamento do
Estado em larga escala, o fisiologismo crônico e imoral do toma lá dá cá – que
acabou por gerar o “Mensalão” e o “Petrolão” - e as barbeiragens orçamentárias
para produzir factoides populistas.
Lula,
com o seu surto calculado da semana passada, quis se distanciar na verdade de
tudo e de todos.
Se
converter numa espécie de observador indignado com tamanho apodrecimento do
sistema.
Desde que
esteve no poder, e até hoje, o ex-presidente recorre ao péssimo hábito de jogar
a culpa nos outros por algo que tem notoriamente a sua marca. Manobra risível.
Foi assim mais
uma vez quando se referiu não apenas a Dilma como também ao partido que ele
mesmo criou e comanda. Contra o PT disparou inclemente: “hoje só pensa em
cargo, em emprego, em ser eleito. Ninguém trabalha mais de graça”.
E quem
exatamente estimulou isso? É fato que Lula quer preparar uma saída estratégica
para se lançar em 2018.
No
salve-se quem puder que virou o governo e o seu partido, ele imagina ser uma
terceira via dele mesmo e de suas criações. Continua a apostar muito na
ausência de memória do brasileiro e na crença de que é invulnerável. Falta-lhe
autocrítica.
*Carlos José Marques, diretor editorial - IstoÉ
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